terça-feira, 18 de novembro de 2014

Perdida


Ouço quando me chamas. Escuto tua voz dizendo meu nome. Mas a verdade é que me perdi em meio aos labirintos que eu mesmo criei. Pois, na ânsia de preencher meus vazios, construí pontes, abri caminhos. E já não há como voltar. Me perdi em mim mesma. E ouço quando mês chamas. Escuto quando dizes meu nome. Mas quanto mais caminho dentro de mim, mais me perco nesta minha densa escuridão. Em alguns destes caminhos, encontrei uma porção de ouro, mas ele não iluminou meus passos, apenas ofuscou meus olhos. E já não vejo como voltar. Eu ouço quando me chamas. Escuto quando dizes meu nome. Mas quanto mais caminho, percebo a escuridão de mim se alongar e já não há volta. Não há como fugir de mim. Do que sou. Esta escuridão é minha. Este labirinto me pertence. Os caminhos escuros? Eu os criei. Mas eu ouço quando mês chamas. Escuto quando dizes meu nome. Mas nem ouso responder. A escuridão já me consome. E aos poucos, enquanto sinto meus pés vacilarem, percebo o enorme silêncio que me ocupa. Já não ouço quando me chamas. Nem escuto dizeres meu nome. Meus olhos apenas se fecham e me entrego lentamente a minha escuridão.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A Mudez do Verbo Ir





Já não há o que dizer. Sinto que as palavras secaram em meu paladar. Você me olha com seus olhos questionadores, que buscam nos meus, uma resposta que eu não posso dar. Na verdade, não sei como fazê-lo. Você sempre tem algo a dizer. Parece que as palavras brotam de sua boca como flores silvestres. Mas eu... Não tenho o que dizer. A verdade é que eu me perdi em seu meu mundo e já nem sei o caminho de volta. Só sei que caminho em uma mesma direção e não consigo mudar de rumo. Já nem escuto o que você diz. Estou distante de tudo o que nós somos ou éramos. Não consigo distinguir mais a sua voz entre tantas outras que ouço neste meu caminhar. Parece que escolhi ser sozinha, mesmo quando você estava ao meu lado. E quanto mais eu caminho, mais me perco de você e me encontro em mim. E, a cada dia, escolho ser menos o que você queria que eu fosse, e sou, cada vez, mais aquilo que na verdade sou. Parece que foi necessário me perder de tudo o que éramos; de tudo o que era você em mim, para que eu me tornasse esta que sou agora. Olho ao redor e ouço apenas o eco que o vazio da sua ausência me causa. Sinto que posso preencher-me com tantas pessoas, e coisas e mundos inteiros, que tenho a impressão de que já não faz sentido mantê-lo em mim. Já não faz sentido isso que somos ou que isto que acreditamos ser. Vejo a estrada a minha frente e não sinto medo. A estrada me puxa enquanto ainda sinto sua mão que segura a minha. Seus olhos fixos nos meus passos que teimam em andar no sentido contrário ao que você está. Adiante. Vejo uma clara decepção quando miro seu olhar de perguntas prontas. Mas não há o que dizer. Já não sinto paz em nada disso. O mundo que se abre a minha frente me parece tão imenso, e eu não tenho tanto tempo. Preciso que o tempo esqueça que é tempo, e me conceda mais um tempo. Você que me olha e me prende, não entende que este mundo tão pequeno que temos juntos não é mais suficiente. Não ocupa o espaço e o tempo que deveria. Volto os olhos para a estrada e meu único desejo é sentir que estou cheia de novo. Repleta desses mundos imensos que se abrem para mim num abrir e fechar de olhos. Me libero das amarras que me prendem a você. Lanço fora as sandálias dos meus pés, o pequeno chapéu de palha em minha cabeça e por fim, solto sua mão forte que desde o início prendia a minha. E você, que é sempre cheio de palavras, se vê mudo. E eu, apenas sigo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Da Vastidão ao Vazio das Palavras


É que entre tantos rabiscos e riscos vou buscando a palavra ideal. Aquela que se encaixe perfeitamente neste meu sentir de todo dia. Compro discos, livros, dicionários. De nada me servem. Busco em amores, odores e dores. Nenhuma delas me cabe. Nenhuma delas descreve este meu sentir. Perco-me entre começo e fim. Nada faz sentido. Caminho por belos jardins. Sinto cheiro de terra, ouço barulho de chuva. Busco olhares, sorrisos e risos. Eles não me dizem nada. Nem as falas insistentes que me gritam palavras ao pé do ouvido dizem de fato o que é isto que sinto. O que é este vão que me ocupa desde que me vi aqui, solitária dentro de mim. Mas ainda não sei o que sinto. Na verdade, já nem sei o que busco. Depois de tanta procura só me restou um imenso vazio.  

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Caderno Azul-marinho


Paredes brancas. Sofá vermelho. Som ambiente. Sentada de frente para ela, que do outro lado da sala, me observa com seu caderninho de cor azul-marinho. Caneta em punho. E eu, sem nem um constrangimento, me ponho a falar e falar e falar. Não faço outra coisa, que não seja me debulhar em palavras.  Conto segredos. Desses que apenas Deus e eu sabemos. Agora, ela também sabe. Deixou de ser segredo. Recomeço o meu falatório. Presente, passado e futuro. Ela me observa por cima de seus óculos meia lua. E falo da infância, juventude e a velhice que me habita. Falo até de quando estava ainda no útero. Paro, respiro. Olho pra ela, e ela me olha de volta. Anota coisas em seu caderno azul-marinho. Faz observações. “Mas, quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”. Não respondo. Fico em dúvida. E desando falar sobre minhas dúvidas sobre a tal galinha e seu ovo, que só Deus sabe quem veio primeiro. E ela anota mais coisas em caderno azul-marinho. E eu me pergunto o que diabos estou fazendo ali. Falando e falando. Contando segredos. Divagando sobre esta minha vida que nem conheço, apesar de tê-la vivido, desde o dia em que nasci. Ou não? Terá sido ilusão, tudo o que carrego na memória? Sorriso e lágrimas? Lugares, casas e malas? Ela continua me olhando. Não consigo responder a nenhuma dessas perguntas. Nem ela. Olhamos, quase que sincronizadas, o relógio na parede. Cessou-se o tempo. Sorrio. Ela me sorri de volta. Muitas perguntas nenhuma resposta. Ao menos terei sobre o que falar na próxima visita. E ela, o que anotar em seu caderno azul-marinho.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Caos e Silêncio


Esses dias, perguntei a mim mesma do que eu tinha mais medo, se do caos ou do silêncio mórbido. Respondi de pronto, nenhum nem outro. Tanto caos como o silêncio me são companheiros íntimos. Fazem de mim suas constantes moradas. Na verdade, o que realmente temo é a solidão. Não esta em que vivo, mas a solidão que perdura. Que dia após dia, está lá, silenciosa; mesmo em meio ao caos de mim. Mas não se engane. Não temo estar só, o que me amedronta, é o silêncio nunca interrompido. Desta solidão que me habita e me molda, me enclausura nas paredes de mim. Temo o caos que nunca  cessa. Que é infindo enquanto busco a calmaria que se foi, deixando apenas silêncio e caos. Mas não os temo. E não há quem me faça deixá-los. São meus. Foi só o que restou, em meio a tanto silêncio e caos, aqui, em mim.  

domingo, 22 de junho de 2014

Verdades em prosa



É esta minha humanidade que me dilacera. Pois quanto mais busco a deidade, é que me perco em meio a desejos que me cravam a pele, antes fria. Pois nesta ânsia de não ser tanto, nesta carreira por entre personalidades que crio, eu corro e fujo. E minto e finjo. Mas de nada me adianta. Não há saída para este labirinto infame em que circulo todo dia. Não há quem me resgate de mim. Caminho tateando paredes e fendas por onde eu possa escapar. Mas acabo fatigada e falha nesta missão de ser santa, neste profano corpo em que habito, guardando segredos nunca ditos, verdades sobre esta que sou, mas que nenhum outro conhece. Pois há em mim esta labuta infinda de não ser tão humano. De ser modelo. Quase uma marionete de pano.