Há dias que não amanhece em nós. Lá fora já é
dia claro. Mas, lá no íntimo a negra noite perdura. Abrimos janelas, cortinas e
portas na esperança de que alguma luz entre. Nada. Apenas o silêncio e o vazio.
Escuridão. E tentamos trazer à tona tudo o que um dia fomos. Não lembramos de
muita coisa. A escuridão faz isso com nossas mentes: apaga as lembranças de quem somos. E ai, já não há
o que fazer. Morremos lentamente, “como a noite que amanhece”. Mas na verdade,
não amanhecemos, a noite é que nos envolve e sufoca e o fim chega. E essa
sequência de fatos e desventuras se repetem dia após dia, em um ensandecido
ciclo vicioso de vida que não acaba, mas nos consome. E apenas seguimos na
esperança de que tudo finalmente acabe.
Minha Fugaz Obscuridade
quarta-feira, 22 de abril de 2015
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Perdida
Ouço quando me
chamas. Escuto tua voz dizendo meu nome. Mas a verdade é que me perdi em meio
aos labirintos que eu mesmo criei. Pois, na ânsia de preencher meus vazios, construí
pontes, abri caminhos. E já não há como voltar. Me perdi em mim mesma. E ouço
quando mês chamas. Escuto quando dizes meu nome. Mas quanto mais caminho dentro
de mim, mais me perco nesta minha densa escuridão. Em alguns destes caminhos,
encontrei uma porção de ouro, mas ele não iluminou meus passos, apenas ofuscou
meus olhos. E já não vejo como voltar. Eu ouço quando me chamas. Escuto quando
dizes meu nome. Mas quanto mais caminho, percebo a escuridão de mim se alongar
e já não há volta. Não há como fugir de mim. Do que sou. Esta escuridão é
minha. Este labirinto me pertence. Os caminhos escuros? Eu os criei. Mas eu
ouço quando mês chamas. Escuto quando dizes meu nome. Mas nem ouso responder. A
escuridão já me consome. E aos poucos, enquanto sinto meus pés vacilarem,
percebo o enorme silêncio que me ocupa. Já não ouço quando me chamas. Nem
escuto dizeres meu nome. Meus olhos apenas se fecham e me entrego lentamente a
minha escuridão.
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
A Mudez do Verbo Ir
Já não há o que
dizer. Sinto que as palavras secaram em meu paladar. Você me olha com seus
olhos questionadores, que buscam nos meus, uma resposta que eu não posso dar.
Na verdade, não sei como fazê-lo. Você sempre tem algo a dizer. Parece que as
palavras brotam de sua boca como flores silvestres. Mas eu... Não tenho o que
dizer. A verdade é que eu me perdi em seu meu mundo e já nem sei o caminho de
volta. Só sei que caminho em uma mesma direção e não consigo mudar de rumo. Já
nem escuto o que você diz. Estou distante de tudo o que nós somos ou éramos. Não
consigo distinguir mais a sua voz entre tantas outras que ouço neste meu
caminhar. Parece que escolhi ser sozinha, mesmo quando você estava ao meu lado.
E quanto mais eu caminho, mais me perco de você e me encontro em mim. E, a cada
dia, escolho ser menos o que você queria que eu fosse, e sou, cada vez, mais aquilo
que na verdade sou. Parece que foi necessário me perder de tudo o que éramos;
de tudo o que era você em mim, para que eu me tornasse esta que sou agora. Olho
ao redor e ouço apenas o eco que o vazio da sua ausência me causa. Sinto que
posso preencher-me com tantas pessoas, e coisas e mundos inteiros, que tenho a
impressão de que já não faz sentido mantê-lo em mim. Já não faz sentido isso
que somos ou que isto que acreditamos ser. Vejo a estrada a minha frente e não
sinto medo. A estrada me puxa enquanto ainda sinto sua mão que segura a minha.
Seus olhos fixos nos meus passos que teimam em andar no sentido contrário ao
que você está. Adiante. Vejo uma clara decepção quando miro seu olhar de
perguntas prontas. Mas não há o que dizer. Já não sinto paz em nada disso. O
mundo que se abre a minha frente me parece tão imenso, e eu não tenho tanto
tempo. Preciso que o tempo esqueça que é tempo, e me conceda mais um tempo.
Você que me olha e me prende, não entende que este mundo tão pequeno que temos
juntos não é mais suficiente. Não ocupa o espaço e o tempo que deveria. Volto
os olhos para a estrada e meu único desejo é sentir que estou cheia de novo.
Repleta desses mundos imensos que se abrem para mim num abrir e fechar de
olhos. Me libero das amarras que me prendem a você. Lanço fora as sandálias dos
meus pés, o pequeno chapéu de palha em minha cabeça e por fim, solto sua mão
forte que desde o início prendia a minha. E você, que é sempre cheio de
palavras, se vê mudo. E eu, apenas sigo.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Da Vastidão ao Vazio das Palavras
É que entre tantos
rabiscos e riscos vou buscando a palavra ideal. Aquela que se encaixe
perfeitamente neste meu sentir de todo dia. Compro discos, livros, dicionários.
De nada me servem. Busco em amores, odores e dores. Nenhuma delas me cabe.
Nenhuma delas descreve este meu sentir. Perco-me entre começo e fim. Nada faz
sentido. Caminho por belos jardins. Sinto cheiro de terra, ouço barulho de
chuva. Busco olhares, sorrisos e risos. Eles não me dizem nada. Nem as falas insistentes
que me gritam palavras ao pé do ouvido dizem de fato o que é isto que sinto. O
que é este vão que me ocupa desde que me vi aqui, solitária dentro de mim. Mas
ainda não sei o que sinto. Na verdade, já nem sei o que busco. Depois de tanta
procura só me restou um imenso vazio.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Caderno Azul-marinho
Paredes brancas.
Sofá vermelho. Som ambiente. Sentada de frente para ela, que do outro lado da
sala, me observa com seu caderninho de cor azul-marinho. Caneta em punho. E eu,
sem nem um constrangimento, me ponho a falar e falar e falar. Não faço outra
coisa, que não seja me debulhar em palavras.
Conto segredos. Desses que apenas Deus e eu sabemos. Agora, ela também
sabe. Deixou de ser segredo. Recomeço o meu falatório. Presente, passado e
futuro. Ela me observa por cima de seus óculos meia lua. E falo da infância,
juventude e a velhice que me habita. Falo até de quando estava ainda no útero.
Paro, respiro. Olho pra ela, e ela me olha de volta. Anota coisas em seu
caderno azul-marinho. Faz observações. “Mas, quem veio primeiro, o ovo ou a
galinha?”. Não respondo. Fico em dúvida. E desando falar sobre minhas dúvidas
sobre a tal galinha e seu ovo, que só Deus sabe quem veio primeiro. E ela anota mais coisas em caderno azul-marinho. E eu me pergunto o que diabos estou
fazendo ali. Falando e falando. Contando segredos. Divagando sobre esta minha
vida que nem conheço, apesar de tê-la vivido, desde o dia em que nasci. Ou não?
Terá sido ilusão, tudo o que carrego na memória? Sorriso e lágrimas? Lugares,
casas e malas? Ela continua me olhando. Não consigo responder a nenhuma dessas
perguntas. Nem ela. Olhamos, quase que sincronizadas, o relógio na parede.
Cessou-se o tempo. Sorrio. Ela me sorri de volta. Muitas perguntas nenhuma
resposta. Ao menos terei sobre o que falar na próxima visita. E ela, o que anotar em seu caderno azul-marinho.
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Caos e Silêncio
Esses dias,
perguntei a mim mesma do que eu tinha mais medo, se do caos ou do silêncio mórbido.
Respondi de pronto, nenhum nem outro. Tanto caos como o silêncio me são
companheiros íntimos. Fazem de mim suas constantes moradas. Na verdade, o que
realmente temo é a solidão. Não esta em que vivo, mas a solidão que perdura.
Que dia após dia, está lá, silenciosa; mesmo em meio ao caos de mim. Mas não se
engane. Não temo estar só, o que me amedronta, é o silêncio nunca interrompido.
Desta solidão que me habita e me molda, me enclausura nas paredes de mim. Temo
o caos que nunca cessa. Que é infindo enquanto
busco a calmaria que se foi, deixando apenas silêncio e caos. Mas não os temo.
E não há quem me faça deixá-los. São meus. Foi só o que restou, em meio a tanto
silêncio e caos, aqui, em mim.
domingo, 22 de junho de 2014
Verdades em prosa
É esta minha
humanidade que me dilacera. Pois quanto mais busco a deidade, é que me perco em
meio a desejos que me cravam a pele, antes fria. Pois nesta ânsia de não ser
tanto, nesta carreira por entre personalidades que crio, eu corro e fujo. E
minto e finjo. Mas de nada me adianta. Não há saída para este labirinto infame
em que circulo todo dia. Não há quem me resgate de mim. Caminho tateando
paredes e fendas por onde eu possa escapar. Mas acabo fatigada e falha nesta
missão de ser santa, neste profano corpo em que habito, guardando segredos
nunca ditos, verdades sobre esta que sou, mas que nenhum outro conhece. Pois há
em mim esta labuta infinda de não ser tão humano. De ser modelo. Quase uma
marionete de pano.
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