Há dias que não amanhece em nós. Lá fora já é
dia claro. Mas, lá no íntimo a negra noite perdura. Abrimos janelas, cortinas e
portas na esperança de que alguma luz entre. Nada. Apenas o silêncio e o vazio.
Escuridão. E tentamos trazer à tona tudo o que um dia fomos. Não lembramos de
muita coisa. A escuridão faz isso com nossas mentes: apaga as lembranças de quem somos. E ai, já não há
o que fazer. Morremos lentamente, “como a noite que amanhece”. Mas na verdade,
não amanhecemos, a noite é que nos envolve e sufoca e o fim chega. E essa
sequência de fatos e desventuras se repetem dia após dia, em um ensandecido
ciclo vicioso de vida que não acaba, mas nos consome. E apenas seguimos na
esperança de que tudo finalmente acabe.